" O grande homem é o homem livre" - Kung-Fu-Tse (Confúcio - 孔夫子)

"A liberdade de imprensa é talvez a liberdade que mais tem sofrido pela

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"Atrás da anonímia se alaparda a covardia, se agacha o

enredo, se ancora a mentira, se acaçapa a subserviência,

se arrasta a venalidade." (Rui Barbosa)


Meus textos

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Malhação de Judas

Néventon Vargas*



Nunca consegui aceitar passivamente a manifestação popular da malhação de Judas. Considero-a uma prática bárbara que lembra as atitudes apaixonadas, características de um período negro da história da humanidade que todos gostaríamos de esquecer, quando os estados teocráticos vigeram soberanos, no decorrer da Idade Média.



O que mais me intriga é que tal prática tem a conivência da imprensa, das religiões e da sociedade de uma forma geral, como se uma turba “enfurecida” estraçalhando alguém fosse a coisa mais natural do mundo, por mais simbólico que seja o fato. Aliás, quanto mais simbólico mais estarrecedor se torna.


Somos um país eminentemente cristão, mas de um Cristianismo cada vez mais afastado da moral defendida por Jesus de Nazaré, que com suas palavras e seus exemplos, nos concitava à retidão de caráter e, enfaticamente, ao perdão das ofensas e a reconciliação com os inimigos. Definitivamente não é isso que se salienta quando se dá ênfase à prática a que nos referimos.


Qual seria a postura da sociedade perante a opção pelo linchamento de um criminoso? Que moral teremos para evocar o respeito à lei se somos permissivos com práticas que simbolizam a barbárie?


Nestes tempos, em que inúmeras organizações se engajam em campanhas pela paz e pela convivência solidária e fraterna entre os povos, soa hipocritamente a difusão e o apoio a tais práticas.


Já basta de vinganças! Já basta de guerras! Já basta de terror, de opressão, de invasões, de ódio! Estamos atrasados na assimilação do amor!


Mais benefício faríamos à humanidade se em vez de condenar, malhar, trucidar o criminoso, tratássemos de perdoá-lo, ampará-lo, reeducá-lo, mormente quando já tendo cumprido sua pena prestou conta de seus atos perante a sociedade, tal como Judas, que já pagou pelo crime cometido e já teve o perdão de quem mais sofreu com sua atitude do passado.


Fazemos questão de algum simbolismo? Então vamos pegar o boneco que representa Judas e abraçá-lo, carregá-lo conosco na nossa caminhada, mostrar a ele que não guardamos rancor em nosso coração e que o ódio já não faz mais parte da nossa filosofia de vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro companheiro, entendo sua indignação por uma atitude tão egoísta e atrasada que o nosso povo vem realizando, mas como tudo o que vem da Igreja Católica não sabemos a verdade sobre Judas Iscariotes, nem confirmamos historicamente se realmente Judas foi o traidor, sabemos apenas o que a Igreja Católica quer que saibamos e que seja do interesse dela.
Um exemplo disso é o que está sendo amplamente divulgado pela mídia o “Evangelho de Judas”. Diz à notícia que a única cópia desse evangelho ficou desaparecida por 1.700 anos. O manuscrito contém 26 páginas (alguns dizem que são mais de 50 páginas) em papiro, escrito em dialeto egípcio copta. O documento seria cópia de uma versão do século III ou IV, redigida em grego.
A novidade é que o texto indica que a traição de Judas Iscariotes teria sido a pedido do próprio Jesus, que lhe teria dito: “Tu superarás todos eles. Tu sacrificarás o homem que me cobriu”. Ou seja: O traidor ajudaria Jesus a libertar-se do seu invólucro carnal (Jornal O Povo, Fortaleza, (CE), 08.04.06, p.28). Foi assunto de capa da revista ÉPOCA. Edição 405, 20.02.06. O manuscrito ainda está em processo de tradução. A nossa análise abrange apenas o que foi divulgado.
A notícia não o diz qual dos personagens da Bíblia com o nome “Judas” é o autor do dito Evangelho: Judas (apóstolo - Lc 6.16; Jo 14.22); Judas (Barsabás – At 15.22); Judas (de Damasco – At 9.11); Judas (irmão de Jesus – Mt 13.55; Mc 6.3). O manuscrito ainda está em processo de tradução. Sabe-se que referido evangelho foi classificado de herético pelo bispo Irineu, de Lyon, no segundo século.
Portanto, não sabemos nada sobre Judas Iscariotes, por isso deve ser maior ainda nossa indignação pelo que fazem na memória deste homem. Então façamos como em sua postagem original, até encontrarmos a verdadeira história de Judas Iscariotes :
“Fazemos questão de algum simbolismo? Então vamos pegar o boneco que representa Judas e abraçá-lo, carregá-lo conosco na nossa caminhada, mostrar a ele que não guardamos rancor em nosso coração e que o ódio já não faz mais parte da nossa filosofia de vida.”