Este texto foi escrito em 2008, quando meu pai completou 80 anos de idade, mas ainda é válido para homenageá-lo e dizer do significado d'ELE para minha existência. Ele desencarnou em 02 de setembro de 2021, dia em que completava 93 anos de idade.
Ele tem muitas faces. Não. Não é um caso de personalidades múltiplas. Trata-se apenas de vê-lo sob diversos ângulos: o filho, o irmão, o homem, o marido, o pai, o profissional, o cidadão. Posso vê-lo também como estudante, político, filósofo; espírito, amigo, mentor. Hoje, avô e bisavô.
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Ele, com minha neta Marília, em 2007 |
Ele sempre foi um rebelde e radical. Não que tivesse desvios de comportamento ou moral duvidosa ou ainda que pudesse ser considerado mau-caráter. Simplesmente se caracterizava por uma inconformidade em aceitar passivamente o tradicional sem um exame apurado e o uso imprescindível da razão.
Na infância, não deu sossego aos mestres, numa época em que a educação era monopolizada pela religião, com a força do seu poder e pensamento tradicionalmente dogmático. Não se admitia lançar a dúvida quanto às verdades tidas como inquestionáveis. Adulto, não se conformava com a ordem vigente, colocando em risco a segurança própria e de sua família na defesa de seus ideais.
Ele nunca foi religioso no entendimento mais usual. Nunca foi afeito às atitudes piegas de contrição, de devoção, de idolatria, de superstição.
Ele é uma pessoa bem humorada e que sempre tem uma saída inteligente para as situações mais simples como para as mais delicadas.
Ele é espírita e foi minha referência desde as primeiras investidas para a busca desse conhecimento. Ele esteve presente em todos os movimentos do Espiritismo e acompanhou a sua evolução na cidade em que nasceu e vive até o presente.
Hoje, quando me olho o vejo num outro tempo, com oportunidades diferentes, com outras experiências e num contexto diverso, como se fosse ele vivendo a minha vida. Imagino que se eu tivesse vivido no seu tempo, vivenciando todos os episódios de sua vida, seria exatamente como ele foi quando teve minha idade.
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Meu pai, Nelcy, com a minha neta Luísa, em 2013. |
Mas, pensando bem, a sua presença, o seu pensamento, a sua postura, sempre me infundiram confiança e segurança. Lembro-me que na infância, em momentos de aflição e medo, quando os pesadelos me inquietavam, quando me aterrorizava o desconhecido, quando a escuridão me dava pavor, o primeiro grito que me saia da garganta era: PAAAI!
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