" O grande homem é o homem livre" - Kung-Fu-Tse (Confúcio - 孔夫子)

"A liberdade de imprensa é talvez a liberdade que mais tem sofrido pela

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enredo, se ancora a mentira, se acaçapa a subserviência,

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Meus textos

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Consolador, sim — Prometido, talvez

Uma questão que me intriga e que se repete em minha mente constantemente é a decisão de Allan Kardec, nosso insigne mestre de Lion, ter identificado no Espiritismo a promessa feita por Jesus há dois mil anos.
Consultando o Houaiss verifiquei que o sentido da palavra “consolador”, abstendo-se, evidentemente, das conotações figuradas e religiosas, cabe perfeitamente para o Espiritismo.

Não pretendo, entretanto, fazer aqui uma defesa da adjetivação, pois isso já está feito com brilhantismo n’O Evangelho Segundo o Espiritismo e nas outras obras escritas por Kardec. Tal caráter já está devidamente caracterizado em toda quarta parte d’O Livro dos Espíritos, intitulada “Das esperanças e Consolações”.

Mas, “consolador” é apenas um adjetivo que pode ser precedido de muitos substantivos. O problema começa a aparecer quando a palavra é usada como substantivo, seja para designar o Espiritismo, seja para identificar qualquer outra filosofia, idéia, pessoa, religião, etc. Qualquer uso nesse sentido o tornará absoluto, o que é incompatível com o mínimo de modéstia e humildade. Eu diria ainda mais: que é extremamente pretensioso.

Uma postura dessa natureza não se encaixa na Filosofia Espírita, que é, acima de tudo, libertadora e nunca deveria nos aprisionar a dogmas e a expressões cristalizadas que comprometem o seu caráter eminentemente progressista.

Até agora, só me referi à palavra “consolador”. Agrava-se o problema quando se adjetiva o substantivo com a palavra “prometido”. Esta forma está expressa n’O Evangelho Segundo o Espiritismo, no seu capítulo 6 e a sua defesa foi feita nos itens 3 e 4 pelo próprio Kardec. Tal identificação coloca o Espiritismo como o herdeiro direto de Jesus, à revelia das religiões cristãs, criando um antagonismo totalmente desnecessário.

Respeito profundamente Allan Kardec, mas me recuso a designar o Espiritismo como “O Consolador Prometido”. Não estou afirmando que ele está errado. Estou dizendo que posso até aceitar que a Doutrina Filosófica e Moral, chamada Espiritismo, seja realmente aquilo que Jesus pensava quando, segundo a citação no Evangelho (João 14:15 a 17 e 26), disse que o Pai enviaria outro Consolador. O que não aceito é repetir e propagar isso, a exemplo das religiões salvacionistas que pregam serem a única verdade e o único caminho para a salvação.

Não precisamos despender muito tempo em pesquisas para encontrarmos inúmeros exemplos na história e até na atualidade de posturas extremamente perniciosas para a evolução da humanidade, em que nações, grupos ou indivíduos se acham detentores do poder e da verdade, únicos “escolhidos de Deus” para elevar o homem à santidade. A conseqüência disso tem sido o estímulo ao segregacionismo e ao preconceito que levam, invariavelmente, às guerras coletivas e individuais.

É hora de o homem abrir a sua mente para as diversidades e aprender com elas. É hora de o Espiritismo rever conceitos e posturas que estejam criando obstáculos às relações humanas. Afinal, se ele não é uma seita, se os seus princípios são universais, se a sua busca constante é pela verdade, ele não é exclusividade dos espíritas. Ele é do homem para o homem, dos espíritos para os espíritos, independente de qualquer rótulo, tempo e/ou espaço.

Um comentário:

Unknown disse...

É isso aí Newenton,parabéns.precisamos de pessoas assim,para nos despertar ao questionamento:porquê aceitar sempre tudo mastigado ,moldado, como se fosse absoluto e imutável.